Publicado por http://danielhuamani.com/news/2016/3/15/pscoa
Está chegando a Páscoa e seja você uma pessoa religiosa ou não, o chocolate é uma parte grande desta época do ano. Estima-se que sejam produzidas no Brasil cerca de seis toneladas do doce durante o mês de Março, cerca de 50% a mais do que nos outros meses do ano. Sim, você pode estar reclamando dos preços do ovo de páscoa e argumentando que o chocolate em barra é mais barato e que é um oportunismo de mercado. Mas vamos ao que realmente interessa: chocolate em 3D!
Fui, a convite da Autodesk, conhecer o processo de impressão 3D em chocolates dentro do Garagem FabLab nesta semana, que usa o sonho de consumo do maker doméstico: uma Z-Morph. A Z-Morph é um equipamento de fabricação digital incrível. Além de ser uma impressora 3D de qualidade impecável, ainda pode trocar o cabeçote para outras funcionalidades: corte à laser, impressão de pastas macias (chocolate e silicone) e duras (como cerâmica) e até uma fresa. Ainda terei uma só para mim, mas por enquanto, tenho que me contentar com ver a do Garagem e também a da 3D Criar, que é distribuidora da Z-Morph no Brasil.
Voltando aos chocolates, este tipo de impressão ainda é novo – começaram a sair as máquinas em 2012. Todo o processo de impressão é bem parecido com o do plástico, que já discutimos bastante por aqui: o modelo 3D desenhado no computador é fatiado em várias camadas finas para que a impressora consiga depositar o material camada por camada até obter o objeto completo. No caso do plástico e do chocolate, isso implica em derreter o material para que ele se solidifique novamente depois de depositado no lugar certo. A grande diferença do processo de impressão 3D para o processo tradicional das doceiras de casa – depositar o chocolate em uma forma, esperar secar e tirar, é que na impressão, é possível criar alguma coisa totalmente nova e única, que não existe um molde.
DIFICULDADES AO LONGO DO CAMINHO
Apesar do pessoal do Garagem ser expert em impressão 3D, a matéria prima chocolate encontra várias resistências novas – já que ninguém ali sabia cozinhar e nunca foi doceiro antes. É divertido ver como o processo de aprendizagem passa por iterações de receitas diferentes, já que o chocolate deve estar macio o suficiente para ser moldado, mas duro o suficiente para formar o objeto. Foram feitos vários testes de receita: chocolate com leite em pó, chocolate com creme de leite, com banana, com maisena… Afinal, o que deu certo foi…… Só o chocolate puro. A bisnaga é deixada em banho maria para amolecer o chocolate e aí você tem alguns minutos para imprimir os objetos. Se ele esfria demais, o bico entope e aí é hora de outro banho maria.
Aliás, dificuldades ao longo do caminho e como superá-las é parte do dia-a-dia do Garagem Fablab. Várias sugestões de outros convidados podem contribuir para formar uma solução melhor: e se usássemos uma resistência elétrica para manter o chocolate levemente aquecido no tubo? E se ligássemos o ventilador mais forte para ajudar a esfriar o chocolate moldado e para não deformar? E se trocássemos a marca do chocolate por uma com menos gordura? São essas perguntas de pessoas não-técnicas e não especialistas em um determinado assunto que fazem com que a comunidade de Fablabs seja um lugar tão interessante para novas idéias.
Apesar do sucesso em imprimir alguns docinhos bacanas, fica evidente que a tecnologia – pelo menos para o consumidor doméstico, ainda não chegou no ponto de facilidade que a impressão 3D em plásticos já chegou. Ainda tem um bom caminho para que o processo seja mais mainstream. Além disso, foi muito bacana comer minha primeira comida impressa em 3D!
SETOR DE ALTA GASTRONOMIA E IMPRESSÃO 3D
Hoje existem outras opções de materiais a serem impressos. A 3D Systems possui um equipamento que cristaliza açucar refinado em pó para criar belíssimas esculturas únicas. Além do mais, a NASA está pesquisando também como aproveitar melhor espaço e nutrientes com alternativas de impressão 3D para estações espaciais.
Alta gastronomia produz verdadeiras obras de arte comestíveis!
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Ainda estamos engatinhando no setor de alimentos impressos em 3D mas as promessas são grandes. Opiniões são divididas enquanto alguns chefs acham que as duas coisas não podem ser misturadas enquanto outros acreditam que a impressão de alimentos pode ser comparada à invenção do forno de micro-ondas, quando as pessoas ainda não entendiam para que e como servia aquele novo aparelho.
Pelo menos a impressão em chocolates já está garantida. Quem sabe na próxima Páscoa, eu não deixe de gastar dinheiro com ovos caríssimos e compre uma impressora nova que possa imprimir em chocolate! Além de economizar, ainda vai dar para fazer um monte de coisas personalizadas e bacanas para o pessoal daqui de casa.