Veja que ideias inovadoras fazem uma empresa crescer, mas não são frutos apenas de inspiração.
Incentivar a criatividade traz retorno financeiro para as empresas
A cena é clássica em desenhos animados e histórias em quadrinhos. Reflexivo, o personagem abre um sorriso e surge, acima de sua cabeça, uma lâmpada brilhante. Ele teve uma ideia.
A imagem da lâmpada que se materializa, quase num passe de mágica, é indício de como o senso comum vê pessoas criativas. Há uma mística que as envolve, como se fossem iluminadas repentinamente por ideias brilhantes. Criar, porém, é mais trabalhoso e vai além da inspiração. Para um empresário, buscar a novidade é obrigatório.
Encomendado pela Adobe, um estudo da consultoria Forrester chegou à esperada conclusão de que incentivar a criatividade traz retorno financeiro. Segundo a pesquisa, os empresários entrevistados que afirmaram fomentar a busca por novas soluções experimentaram crescimento de 10% em suas receitas em relação ao ano anterior. Em contraste, apenas 20% das companhias consideradas menos criativas tiveram resultado semelhante.
No Brasil, apesar das evidentes vantagens de incentivar a criatividade, nossos empreendedores ainda se apegam a velhas soluções. O levantamento Global Entrepreunership Monitor, que mede, entre outros indicadores, o potencial de inovação das empresas brasileiras, constatou que apenas 8,4% dos empreendedores iniciais ofereciam produtos ou serviços considerados novos para seus clientes. Esse percentual cai para 4,4% entre empreendedores estabelecidos.
Motivação e informação complementam a criatividade
Como é possível, então, mudar este cenário e passar pelo processo que culmina com a metafórica lâmpada sobre a cabeça? Há uma questão inicial que diz respeito à motivação. Em geral, não se tem ideias geniais sobre algo em que a pessoa não tem interesse. “Essa motivação é uma coisa muito interior. Uma pessoa entusiasmada normalmente ‘transborda’ e fica criativa. Ela sonha. Um ser criativo não deixa de ser um sonhador”, destaca Carlos Melles, presidente do Sebrae.
O desejo e o interesse por uma área, porém, não são suficientes. Por isso é preciso buscar a maior quantidade possível de informações sobre o setor ou produto em que se quer inovar. A partir daí, torna-se fundamental desenvolver um arcabouço sólido, uma espécie de base de dados no cérebro que servirá como semente de onde a ideia vai nascer. A forma de construção desse pilar de sustentação para a criatividade pode variar bastante.
Para Milton Daré, fundador do FEA Angels, rede de ex-alunos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP que apoia ideias disruptivas de universitários, a ideia começa a se formar a partir da interação com pessoas de diferentes áreas: “Meu momento de criatividade é quando vou estudar, vou para o mestrado, e procuro falar com pessoas de diferentes backgrounds, sejam elas das artes, do jornalismo… Ouvir o diferente. Você escuta o diferente e vêm os insights”.
Tentativa e erro
A busca por informações, seja nas interações com outras pessoas ou em momentos de isolamento, torna-se mais difícil quando a área de atuação é muito recente. É uma dificuldade enfrentada diariamente pela ARVORE, empresa que usa realidade virtual e realidade aumentada para produzir entretenimento por meio de experiências narrativas interativas.
Roteiristas e artistas acostumados a contar histórias em mídias tradicionais têm de rever conceitos para criar na nova plataforma. Diante de um cenário em que há pouca literatura e quase nenhuma referência de trabalhos estabelecidos, trabalhar duro para testar diferentes alternativas até chegar ao resultado desejado é o jeito de ser criativo. É preciso, então, conviver com o erro e não “sufocá-lo” com reprimendas típicas de empresas mais tradicionais. “Temos uma premissa muito forte que é a de permitir errar. Mas errar ‘rápido’, no sentido de já buscar diagnosticar e corrigir. Muda bastante a forma de trabalhar. Estamos descobrindo novas metodologias. Para isso, executar é muito importante”, destaca Rodrigo Terra, cofundador da ARVORE e um dos sócios da empresa, ao lado de Ricardo Justus e Edouard de Montmort.