Se não acreditarmos que as questões financeiras se adequarão à capacidade do meio ambiente e do planeta, inclusive na indústria da moda, é melhor ficar deitado na cama esperando as catástrofes.
Todas as vezes que pensamos em moda, buscamos as últimas tendências e o que as marcas estão fazendo para os próximos lançamentos de primavera/verão e outono/inverno. Além de todo o processo fabril e do fato de que muitas fábricas têm problemas com direitos humanos, há a pegada ecológica dos materiais usados e do transporte até as lojas ou à casa do cliente. Por último existe o descarte correto dos produtos. O problema das roupas, sapatos e tênis sempre é o que fazer com os modelos que ninguém mais usa. No Brasil, a maioria das roupas ainda vai parar nos lixões e aterros sanitários.
Então precisamos parar de comprar roupas? Seria o ideal, mas sabemos que a realidade é outra e que o minimalismo ainda é só um conceito que começa a ser posto em prática por um mínimo de pessoas.
Temos o “upcycling”, que ressignifica o produto descartado, sem necessariamente passar por um processo químico ou físico. É uma forma de reciclar sem gastar mais energia do planeta. No caso específico das roupas, é agregado um valor de design e de criatividade. Em Eskilstuna (Suécia), por exemplo, fizeram o shopping ReTuna Recycling, com várias lojas dedicadas somente a produtos de “upcycling”, veganos e reciclados.
Outra forma de minimizar o impacto ambiental está no processo de fabricação. Dan Barry, fundador da Marc Skid, começou a fazer cuecas e calcinhas com algodão orgânico e fibras provindas de reciclagem de garrafas PET. Ou seja, cuecas e calcinhas ambientalmente corretas! Além disso, cada compra ajuda instituições de caridade e apoio humanitário.
No fim de 2017, a indústria de calçados fez um relatório com boas práticas, “How to Do Better: An Exploration Practices within the Footwear Industry”, que incluía questões de saúde e segurança, meio ambiente e direitos humanos. O documento mostra a preocupação e alguns processos para minimizar os impactos sociais e ambientais, sem perder o foco no financeiro.
A brasileira Insecta Shoes nasceu como uma companhia de impacto socioambiental, além de ser uma “Empresa B”, certificação específica para empresas responsáveis e conscientes. Ela vende sapatos e acessórios ecológicos e veganos produzidos no país. A marca é engajada em várias causas e possui diversos selos e parcerias.
É um movimento sem volta, mas você deve se perguntar se apenas as pequenas ou médias empresas desse segmento estão preocupadas com tais temas. Um exemplo bem atual é a Adidas, que vendeu 1 milhão de tênis feitos com plástico retirado dos oceanos. De início, em 2017, era só uma linha promocional com 7 mil pares, mas o sucesso foi tanto que aumentaram a produção e (óbvio) as vendas.
Conforme a empresa, cada par de tênis com design inspirado em ondas do mar contém 95% de plástico retirado do oceano e 5% de poliéster reciclado. Ainda é apenas uma linha de tênis dentro de vários segmentos e produtos da marca, mas já é um bom começo.
Outra grande marca esportiva lançou o Nike Circular Innovation Challenge, desafio focado em pensadores, fazedores, designers e engenheiros. A inscrição, feita até 1o de maio de 2018, tinha duas categorias (Design com material de moagem e Recuperação de material), com prêmios em dinheiro.
Ao analisarmos essas empresas buscando soluções para o problema de seus resíduos e a questão ambiental do planeta, temos um pouco mais de esperança para as gerações futuras. Se não acreditarmos que as questões financeiras se adequarão à capacidade do meio ambiente e do planeta, é melhor ficar deitado na cama esperando as catástrofes.
Temos de utilizar inovação, criatividade e bom senso para realizar nosso desenvolvimento e sobreviver no planeta. O que você está fazendo para isso?